
Wicked é um musical impressionante, mas o que realmente encanta são as emoções
21-11-2024, 18:42
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Iniciar sessãoEm O Match Perfeito, Dakota Johnson interpreta uma casamenteira confrontada com as suas próprias contradições no amor. Entre exigências sociais, traumas reprimidos e uma busca de autenticidade, a sua escolha final subverte os códigos da comédia romântica.
Lucy sempre acreditou que podia orquestrar o amor. Enquanto casamenteira, ela combinava desejos e perfis, acreditando que a compatibilidade era suficiente para criar histórias duradouras. Mas em O Match Perfeito, o seu décimo casamento arranjado torna-se o catalisador de uma desilusão: a união que ela própria provocou transforma-se em drama, quando uma das suas clientes, Sophie, é agredida pelo seu pretendente.
Este choque faz implodir as certezas de Lucy. E nesse momento de vulnerabilidade, ela vê-se dividida entre duas figuras masculinas: Harry, o homem perfeito no papel, e John, o ex de charme desarrumado que ela tinha deixado por razões económicas. O filme, através deste dilema, propõe um olhar mais complexo sobre as relações modernas, ao dissecar as ilusões do casal “ideal”.
A personagem de Pedro Pascal, Harry, encarna tudo aquilo que Lucy achava que queria: estabilidade financeira, elegância, sucesso. Ele é a definição do homem raro, aquela famosa “unicórnio” no jargão das casamenteiras. No entanto, apesar dos pontos em comum, Lucy percebe que lhe falta algo essencial: a capacidade de verdadeiramente a escutar, de detectar os seus silêncios.
Um detalhe revela tudo: Harry foi submetido a uma operação para ganhar alguns centímetros de altura, na esperança de aumentar as suas hipóteses tanto nos negócios como no amor. Esta escolha, estratégica mas profundamente íntima, revela um vazio ainda maior: o de um homem moldado para agradar, mas incapaz de autenticidade emocional. É esse distanciamento, esse verniz demasiado perfeito, que leva Lucy a afastar-se. Ela não parte por causa de um defeito, mas por falta de uma falha.
John (Chris Evans) não tem nada de espectacular. Actor sem dinheiro, nunca conseguiu oferecer a Lucy garantias de um futuro “confortável”. Mas é precisamente a sua sinceridade, a sua capacidade de estar presente sem condições, que devolve sentido à própria ideia de amar.
A reconciliação deles não se baseia numa paixão reencontrada, mas numa verdade nua: após o fracasso com Harry, Lucy compreende que o conforto não é nada sem uma emoção partilhada. E sobretudo, depois de ver Sophie afundar-se na sequência de um erro de julgamento, ela deixa de acreditar nos cálculos. O coração não precisa de modelos estatísticos. Precisa de humanidade.
O casamento entre Lucy e John, improvisado e simbólico, não tem nada de conto de fadas. Mas é neste renunciar voluntário ao “melhor partido” que reside a vitória da autenticidade sobre as aparências.
O filme começa e termina com uma cena pré-histórica, onde um homem e uma mulher oferecem flores um ao outro numa gruta. Celine Song inscreve aqui um paralelo arrojado: desde o início dos tempos, amar é dar sem garantia de retorno.
Através de Lucy, O Match Perfeito desconstrói as exigências do casal moderno: seduzir, ter sucesso, apresentar resultados. E propõe em seu lugar uma alternativa frágil mas poderosa: ser-se verdadeiro, mesmo na incerteza. Não é o luxo, nem o sacrifício, mas sim o laço entre dois seres que resiste à prova da realidade.
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